13 de outubro de 2016

Polícia acha garota que estava sumida há 16 dias no RN; jovem é preso

Uma semana de conversas pelas redes sociais foi o suficiente para Ana – nome fictício de uma menina de 13 anos, moradora de Parelhas, no interior do Rio Grande do Norte – se convencer a deixar família e amigos às escondidas e viajar sozinha para a Região Metropolitana de Natal, capital do estado. Estava decidida a  morar com um homem de 21 anos – seu namorado virtual - que agora, preso, responderá por aliciamento e estrupo de vulnerável.  
Desaparecida desde o dia 27 de setembro, a adolescente teve fotos espalhadas pela família e pelos órgãos de segurança nas redes sociais e na imprensa potiguar. Só na última terça-feira (11), porém, viu seu próprio rosto no noticiário da televisão. Arrependida, resolveu ligar no mesmo dia para a avó paterna, com quem mora desde pequena, e combinou um reencontro. Queria voltar para casa.

ana4.jpeg

Ana (nome fictício), de 13 anos, foi encontrada após 16 dias desaparecida
Sete quilos mais magra, Ana foi encontrada pela polícia às 9h da quarta-feira (12) – Dia da Criança - no terminal de ônibus do bairro Bela Vista, em Parnamirim. Ela havia marcado lá o encontro com a avó, que veio de Parelhas, distante 188 quilômetros da capital. A senhora de 47 anos, com medo, avisou o combinado ao delegado Raimundo Rolim, da Delegacia de Capturas, responsável pela investigação de desaparecimentos.  Equipes da Polícia Civil foram deslocadas para lá.
Os agentes encontraram Ana com uma mulher, que foi levada à delegacia para prestar esclarecimentos.  Depois, seguiram até uma residência apontada pela menina, a cinco quarteirões de distância do terminal,  onde estava Rodrigo Alencar, desempregado, 21 anos, que foi preso em flagrante. Todos os envolvidos foram encaminhados à Delegacia de Plantão da Zona Sul de Natal, em Candelária.
A mulher que estava com Ana era tia de Rodrigo e, segundo a polícia, não teve participação no crime. Antes de entrar na sala do delegado para prestar depoimento, já no fim da manhã, ela contou que viu a menina pela primeira vez no último domingo e que soube apenas ontem (11), pela televisão,  que a família da menina não sabia de seu paradeiro. “Eu disse, ‘não faça isso, minha filha. Já imaginou como seus pais estão?’”, contou a um policial, que tentava entender melhor a história. Ela tricotava durante a conversa.
Teria sido essa mulher, que não quis dar entrevista nem ter o nome divulgado, que convenceu a jovem a procurar a família.
Na terça-feira 27 de setembro, Ana saiu de casa pela manhã, com praticamente nenhuma bagagem. Pagou uma passagem de ônibus com um dinheiro que tinha em casa, em um cofrinho, e desembarcou na rodoviária da capital, na zona Oeste. Com a ajuda e informações de um conterrâneo que conheceu durante a viagem, ela foi até uma parada de transporte urbano e pegou um ônibus para Parnamirim, onde era aguardada por Rodrigo. A polícia acredita que o homem visto com ela na Rodoviária, filmado pelas câmeras do terminal, também não tem relação com o crime e desconhecia a fuga da menina. Apesar de investigado, ele não deve responder por nenhum crime.
Ana confirmou que viajou e passou os 16 dias na casa de Rodrigo, que mora com os avôs idosos, por livre vontade e iniciativa. Ele teria convidado a menina para morar com ele. Segundo seu relato, foi bem tratada e alimentada enquanto esteve na casa do homem. Apesar disso, diz não gosta mais dele, nem o considera um namorado.
Embora tenha afirmado que Rodrigo era legal com ela, Ana confirmou que teve relações sexuais duas vezes com ele - uma sem sua vontade. “A primeira ele forçou. Depois foi normal, fiz porque quis”, relata a menina. Ana tem cerca de um 1,6 metros e, magra como está, pesa menos de 50 quilos.
Os exames realizados pelo Instituto Técnico de Polícia (Itep) confirmaram a conjunção carnal. A menina também passou por testes de HIV e foi medicada. A polícia ainda encontrou imagens sensuais da menina no celular do suspeito. 

rodrigo.jpeg

Rodrigo Alencar, preso em flagrante
Rodrigo Alencar deu outra versão à polícia. Disse que ela só o procurou na última semana, pedindo ajuda por estar perdida em Natal. “Eu estava querendo só ajudar ela. Ela disse que estava perdida”, limitou-se a dizer o rapaz, algemado pelas duas mãos a uma cadeira no pátio interno da delegacia. Ele recusou entrevista.
Ainda de acordo com a versão da menina, o rapaz pegou o chip de celular dela, logo que chegou em Natal e o quebrou. O avô do rapaz comprou e deu um novo chip a ela na última terça-feira. Foi com o número novo que ela ligou para a avó. “Senti falta da minha família, da minha avó. Não vou fazer isso de novo”, disse a menina.
Nos últimos dias, ela chegou a se comunicar com algumas amigas pela internet, mas elas acharam diferente a forma como ela escrevia. Em uma das mensagens, ela dizia que estava no Rio de Janeiro. A polícia acredita que era o próprio homem quem mandava as mensagens. 
A avó de Ana tem 47 anos, já foi conselheira tutelar durante 10 anos e atualmente trabalha cuidando de um idoso. Ela mora sozinha com a menina e a considera como filha. Foi a responsável, na família, por mobilizar polícia e imprensa na procura da garota. O pai de Ana mora na mesma cidade que ela, com uma segunda esposa. A mãe dela é praticamente vizinha, mora na rua ao lado. “Foram dias de desespero para toda a família. Uma loucura. Deixei  o trabalho, tudo para tentar encontra-la”, contou a avó. Para ela, Ana não tinha motivos para fugir, já que tinha um bom relacionamento com a família. “Eu mimo ela, mas sempre foi uma menina muito obediente”, reconheceu a senhora. Ela acredita que a menina vai precisar de um acompanhamento psicológico.
Ana diz que aprendeu a lição. Questionada sobre o que diria às meninas da sua idade, respondeu: “Não façam isso que eu fiz. Talvez nem tenham a sorte de ficar viver”. Agora, ela deseja reencontrar os pais e dormir. Em alguns dias, voltará a frequentar o 7º do Ensino Fundamental e à rotina de menina.

rolim.jpeg

Delegado Raimundo Rolim, da Decap: suspeito vai responder por estupro de vulnerável
Já Rodrigo enfrentará a Justiça de agora em diante. O delegado Raimundo Rolim afirma que ele deverá permanecer preso e responder aos crimes de aliciamento e estupro de vulnerável. A acusação sobre cárcere privado ainda será avaliada. “A polícia vai continuar investigando o caso e não descarta participação de outras pessoas. Não podemos descartar nenhuma possibilidade”, concluiu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários postados nas publicações são MODERADOS porem seus conteúdos são de responsabilidade dos autores.