11 de fevereiro de 2013

Acusado de acobertar pedofilia, Bento XVI deixará desafio para sucessor


Pelo menos 4 mil casos de pedofilia foram denunciados ao Vaticano nos últimos 10 anos. Novo papa terá desafio de dar resposta a fiéis pelos crimes


Pesaram sobre Bento XVI acusações de que ele, quando cardeal em 1980, não teria feito nada para impedir que um padre acusado de pedofilia retomasse o sacerdócio em uma paróquia da Alemanha. O jornal The New York Times também noticiou um caso similar nos Estados Unidos. Então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, órgão do Vaticano responsável por investigar esse tipo de crime, ele teria se recusado a punir um padre acusado de ter molestado 200 crianças em uma escola do Wisconsin.Antes de renunciar o comando da Igreja Católica por motivos de saúde, Bento XVI enfrentou um dos momentos mais delicados como pontífice entre 2009 e 2010, quando vieram à tona denúncias de que ele teria acobertado casos de pedofilia envolvendo padres. Associações de direitos humanos chegaram a apresentar uma denúncia ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, acusando o Papa de crimes contra a humanidade por ter tolerado e ocultado sistematicamente abusos sexuais contra crianças em todo o mundo.
Bento XVI saúda católicos pela primeira vez como Papa após Conclave, em 19 de abril de 2005 Foto: AFP
Bento XVI saúda católicos pela primeira vez como Papa após Conclave, em 19 de abril de 2005
Foto: AFP
O Vaticano negou as acusações do jornal e disse que Bento XVI sempre foi um guia contra a "cultura do silêncio" na Igreja Católica de esconder os casos de padres pedófilos. Sobre o caso alemão, a Igreja disse que o então arcebispo Joseph Ratzinger não estava a par da decisão de reintegrar o padre acusado de pedofilia, que teria sido feita pelo vigário geral na época, monsenhor Gerhard Gruber. Sobre o padre americano, o Vaticano afirmou que Bento XVI só teve conhecimento das denúncias muitos anos depois, quando o idoso sacerdote já estava muito doente.
Após uma onda de protestos em diversos países onde padres foram acusados de abusos contra crianças e adolescentes, o próprio Bento XVI deu explicações e pediu desculpas aos fiéis pelos erros da Igreja. O Papa ainda pediu cooperação aos bispos de todo o mundo, que têm responsabilidade direta sobre os padres, para adotar uma política de tolerância zero aos pedófilos.
No entanto, passados quase oito anos de Bento XVI a frente da Igreja Católica, os problemas envolvendo abusos de padres ainda estão longe de acabar. William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, revelou no começo de fevereiro que um total de 4 mil casos de abusos sexuais contra menores foram recebidos nos últimos 10 anos pelo Vaticano e admitiu que a resposta da Igreja foi "inadequada".
Bento XVI não está 'triste ou deprimido', diz porta-vozClique no link para iniciar o vídeo
Bento XVI não está 'triste ou deprimido', diz porta-voz
Embora não exista um estudo em nível mundial, especialistas apontam que só nos Estados Unidos estima-se que o número de crianças vítimas de abusos sexuais por clérigos chega a 100 mil. Há também centenas de registros do crime em países como Irlanda, Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, Índia, Holanda, Filipinas e Suíça, entre outros. Com a renúncia de Bento XVI, caberá ao novo papa o desafio de evitar que esses casos se repitam e recuperar a confiança de milhões de fiéis.

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